Fenix Renascida

A leitura proposta pela professora Monica foi a “Fênix renascida”. Trata-se de uma compilação de poesia portuguesa do século XVII editado em cinco volumes por Matias Pereira da Silva em Lisboa, entre 1716 e 1728. Antes de iniciarmos nossa conversa, gostaria de situar a produção dessas poesias e sua época.

A “Fenix renascida”foi publicada no chamado período Barroco, que vai de 1580 a 1750. Talvez tenham sido os neoclássicos que primeiro utilizaram o termo Barroco para designar esta forma de expressão, pois consideravam essa arte artificiosa, exagerada e absurda.

Considerado excêntrico, o Barroco possuiu uma diversidade de formas e expressões em contraste com o movimento Neoclassicista. Em algumas obras notamos claramente as características que marcam o Barroco, como por exemplo, os prazeres mundanos, a sensualidade e a espiritualidade religiosa.

O Barroco surge em um período onde o homem vivia em constante conflito entre o perdão e o pecado, ente a religiosidade medieval e o paganismo renascentista.

Na literatura, era considerada como uma alegoria hermética. Para entender o que isso significa, vamos separar em 3 tipos:

Em uma ponta da mesa, vamos dizer que existe o sentido literal da palavra. Por exemplo, a palavra cadeira está sendo usada na poesia com o seu sentido literal, que aponta para o objeto. No meio da mesa está a alegoria imperfeita. Seria a alegoria que se utiliza da metáfora, portanto não é o sentido literal, porém é possível identificar sobre o que o poeta está falando, porque há uma relação entre a metáfora e o objeto. Por exemplo, Camões compara os cabelos da musa com os raios de sol da madrugada. Aparentemente há uma relação imagética entre os cabelos da musa e os raios do sol. Ou seja, não é algo indecifrável.

Na outra ponta da mesa está a alegoria hermética. Ela é dotada de um grau inventivo tão grande, que chega a ser difícil de entendermos sobre o que poeta está falando.Trata-se de um jogo de metáforas trabalhado com sentidos associados periféricos.

Para entender o que significa esse “jogo de metáforas trabalhado com sentidos associados periféricos”, vamos ver um dos poemas anônimos que fazem parte da compilação da Fenix Renascida.

 

Iris Parlero, Abril organizado,

Ramilhete de plumas con sentido,

Hybla com habla, irracional florido,

Primavera com pies, jardin alado

 

Entendeu alguma coisa? Não? Nem eu. O que seria um abril organizado? Talvez os dias dos meses postos organizadamente? O que seria “um ramalhete de plumas com sentido”?  Um buquê de flores com algum significado? A primavera teria pés?

Bem, eu só consegui depreender algo a partir do título, que apresento agora a vocês. O título do poema é “A um papagaio do palácio que falava muito”.

O papagaio é o abril, que é a época das flores e dos pássaros. Organizado pois é um organismo. Parece-se com um ramalhete de flores, porém ao invés das flores são as plumas que compõe o buquê. Fala muito, mas é irracional, não sabe o que fala. A primavera é em abril, portanto o papagaio é a primavera, mas tem pés. É como um jardim alado.

 

Coloquei a foto do papagaio para tentar nos ajudar a imaginar como isso pode ser chamado de abril organizado…

Ou seja, as poesias dessa época são dotadas de um grau inventivo muito grande, e a metáfora é formada a partir de uma parte. Por exemplo, o papagaio foi denominado abril pois em abril temos flores e pássaros. É apenas uma parte do significado literal do mês de abril. Daí utilizarmos a expressão jogo de metáforas trabalhado com sentidos associados periféricos.

Há quem diga que essa poesia é criativa e dotada de sinceridade psicológica. Eu acho que essa poesia se parece com os chineses, quando criaram os ideogramas.

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